OS AMIGOS SE FORAM
- Por Carlos Roberts
- 11 de dez. de 2017
- 3 min de leitura
E agora?
"E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu..." Este é um trecho do poema E Agora José?, de Carlos Drummond de Andrade, em que ilustra o sentimento de solidão e abandono do indivíduo, a sua falta de esperança e a sensação de que está perdido na vida, sem saber que caminho tomar. Situação que pode ser comparada á quem teve poder político, prestígio efêmero e por vezes, muitas vezes, tratou as pessoas com desdém e pior: Ignorou os verdadeiros amigos e traiu as massas populares.
Para perto
Trazendo o exemplo para perto, basta lembrar dos últimos dias do um dia poderoso, temido e polêmico, Danilo Dâmaso. Depois de ver a humilhante derrota de seu sobrinho, que mais tarde se revelaria um perdedor costumas, ele enfrentava sucessivas investidas da Justiça Federal, que custavam suas energias e recursos financeiros. Sem poder e quase nenhum prestígio, poucos dias antes de sua prisão, de onde sairia para o hospital onde morreu, ele era visto em uma mesa de bar na orla lagunar da cidade de Marechal Deodoro, terra onde um dia foi o todo poderoso. As pessoas passavam por ele ignorando seus convites para sentar-se e ter conversas vãs. Depois de horas solitárias, Danilo se apoiava - doente - em sua bengala e tomava o rumo de casa.
Também solitário
Outro exemplo de dias antagônicos ao de poder e dinheiro, é o ex-prefeito Cristiano Matheus. Com carreira meteórica na política, elegeu-se vereador por Maceió. Depois deputado federal e prefeito de Marechal Deodoro por duas vezes. Casou-se com Melina Freitas, filha do desembargador Washington Luis e sobrinha de um deputado. Mas foi picado pela mosca azul. No começo perdeu aos poucos. . Depois perdeu tudo de uma vez. A exemplo de Danilo Dâmaso, também foi afastado da prefeitura sob acusação de desvios milionários. E na semana passada o Juiz Federal negou seu pedido de prisão feito pela PF, deferindo somente a segunda busca em seu apartamento de luxo na Ponta Verde. Tantas manchetes policiais tornam ainda mais difícil a retomada de sua carreira política. Ainda tem o agravante dos compromissos políticos não cumpridos, dos aliados traídos e o maior pesadelo: A inegibilidade á vista. Nessa turbulência, Cristiano Matheus não consegue avistar pessoas que se diziam companheiras para toda hora. Aqueles "até na hora da morte". Sumiram da vista amigos como aquele que dizia considerá-lo como filho, mas que agora esta milionário e muito ocupado cuidando dos bichos no pasto da zona da mata. O outro está mais ocupado ainda lá nos postos de combustíveis e nem viu quando o telefone tocou. A amiga contadora que comprou fazenda e apartamento de luxo, nem quer ser vista perto do amigão do peito, a pedido da faculdade onde trabalha. Até mesmo uma foto pode pegar mal perante os alunos. E agora, José?
Carlos Drumond de Andrade
E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, você? você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama, protesta? e agora, José?
Está sem mulher, está sem discurso, está sem carinho, já não pode beber, já não pode fumar, cuspir já não pode, a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José?
E agora, José? Sua doce palavra, seu instante de febre, sua gula e jejum, sua biblioteca, sua lavra de ouro, seu terno de vidro, sua incoerência, seu ódio - e agora?
Com a chave na mão quer abrir a porta, não existe porta; quer morrer no mar, mas o mar secou; quer ir para Minas, Minas não há mais. José, e agora?
Se você gritasse, se você gemesse, se você tocasse a valsa vienense, se você dormisse, se você cansasse, se você morresse... Mas você não morre, você é duro, José!
Sozinho no escuro qual bicho-do-mato, sem teogonia, sem parede nua para se encostar, sem cavalo preto que fuja a galope, você marcha, José! José, para onde?

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