OS BARRAQUEIROS NÃO SÃO OS VILÕES DA PRAIA
- Por: Carlos Roberts
- 22 de mar. de 2017
- 3 min de leitura

RÓTULO INGRATO
Na medida em que se intensificaram as notícias de demolições das barracas da Praia do Francês, também aumentaram as discussões sobre a condição atual da infraestrutura da praia, equipamentos para receber os turistas e também o lixo e demais degradação ocasionada pela sua ocupação irregular. E quase sempre as conclusões das reportagens superficiais ou artigos de quem ão conhece a realidade, vem com uma sentença: A culpa é dos barraqueiros. Grande engano!
SEM A PONTE
Os mais nostálgicos lembram da Praia do Francês ainda antes da construção da Ponte Divaldo Suruagy, na AL 101. Contam que nesta época quem vinha de Maceió, precisava passar por Satuba e Pilar para chegar até a praia. Itinerário que tornava o passeio uma aventura. Motivo pelo qual inviabilizava grandes empreendimentos comerciais na areia. Assim, durante muitos anos, o comércio no local foi sendo feito pelos nativos. E enquanto não surgiam as pousadas, erguiam-se acampamentos de jovens banhistas.
ANOS OITENTA
No início da década de 1980 surgiram as primeiras barracas com condições reais de atender um maior número de clientes, dispostos em mesas e com bebida gelada à eletricidade. E surgiu a ponte na rodovia, encurtando a distância para Maceió e ainda tornando sua visitação mais rápida. Foi quando tentou-se fazer o primeiro ordenamento. Era um período em que a Marinha do Brasil fazia todo o gerenciamento costeiro. Assim, a Capitania dos Portos de Alagoas deu a primeira concessão à quinze barracas no local. Portanto, ninguém ali é invasor. A presença dos barraqueiros lhes foi permitida e autorizada.
PATRIMÔNIO DA UNIÃO
Em 1994 surgiu a Secretaria de Patrimônio da União, que passou a administrar e fiscalizar todas as áreas costeiras. Depois de mais de quinze anos de omissão, a SPU resolveu fazer um "cadastro" dos barraqueiros. Descobriu que já haviam 23 barracas. Todas estruturadas e com um quadro enorme de funcionários entre garçons, cozinheiras e outras funções. A quantidade de empregos gerados já era bem significativo para a economia da cidade de Marechal Deodoro. E também já servia como refúgio para vários ambulantes de Maceió, que buscavam uma renda extra na praia mais frequentada do litoral sul.
AÇÃO JUDICIAL
Depois de terminar o que chamou de "cadastro", a superintendência da SPU em Alagoas, judicializou um pedido de desocupação do solo da Praia do Francês. Na prática, pediam a demolição das barracas. O que significaria desemprego imediato e grande impacto na economia local.
IMPACTO NO TURISMO
Dizem que a derrubada das barracas não traz impacto ao turismo, que a demanda será atendida de outras formas em restaurantes nas proximidades instalados em hotéis e pousadas. Outro engano. Ninguém vai sair da beira da praia, no meio do lazer, para comer uma lagosta ou camarão há dois ou tres quarteirões dali, para depois retornar à faixa de areia. O turista vai procurar outra praia que ofereça tal comodidade. E a agência de turismo não fará questão de parar seus onibus na Praia do Francês, se não houver restaurante que lhes dê comissão sob os gastos de cada mesa.
APOIO IMPORTANTE
É importantíssimo este apoio que a prefeitura vem dando aos comerciantes do local. Pois há décadas os proprietários e permissionários das barracas vem provando que tem gerado emprego e colaborado para o desenvolvimento do município. E no momento em que o gestor compreende esta situação e deicide apoiá-los, está ao mesmo tempo, reconhecendo que ali não há invasores. Pois desde a década de 1980, lhes foi permitida a presença. E foram vítimas de uma sucessiva mudança da lei e campanhas de difamação.
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